Quanto tempo para
ler um livro?
Antigamente eu me cobrava ler
um livro por semana, especialmente em janeiro, por estar normalmente em férias
do meu trabalho. Durante o ano era mais compassiva comigo mesma e me permitia
um livro por mês. Agora, no entanto, já não tenho tanta pressa, assim como não
tenho tantos encontros para saborear conversas sobre nossas leituras. Não fiz
as contas, mas creio que levei quase um ano para terminar o saboroso
"Talvez você deva conversar com alguém". Grifei-o; anotei comentários
de rodapé, assim como parei diversas vezes para refletir sobre meu desejo de
ser mais útil às pessoas, com a formação em psicologia. "Por que não posso
somente ser?" Foi assim, com essa reflexão que ecoou em mim, que a autora
encerrou o ultimo capitulo.
Confesso que o tempo decorrido
foi por muitas vezes, por estimular a minha reflexão sobre a própria vida, as
escolhas que estou prestes a me decidir, bem como análise apurada do
comportamento de alguns terapeutas. Os terapeutas não realizam
transplantes de personalidade, apenas ajudam a aparar as arestas.
Alguma reflexão trará aqui para
você. Uma analogia perfeita sobre problemas pessoais: Em um desenho animado em
que um prisioneiro balança as grades desesperadamente tentando escapar, mas
tanto à direita como à esquerda, a cela está aberta e ele só enxerga a situação
paralisada em sua frente. Isso acontece com a maioria de nós quando nos
sentimos empacados em nossas celas emocionais. Liberdade envolve
responsabilidade, e existe uma parte na maioria de nós que acha a
responsabilidade assustadora. Seria mais seguro ficar na prisão? Isso é algo
que estão fazendo comigo, ou eu estou causando a mim mesma?
Dá para entender porque algumas
literaturas são tão densas. Elas nos encontram, nos questionam e por vezes nos
despertam.
Refletindo sobre os terapeutas, frequentemente
o paciente abandona a terapia por descobrir a humanidade em seu terapeuta.
Quando ocorre isso? Encontro na rua, fotos pessoais nas redes sociais, por exemplo.
Por outro lado algumas pessoas se dizem viciadas em terapia. Ou seria trocar o
termo para viciada no terapeuta? Em inglês se escreve Therapist e é soletrado da
mesma maneira que The Rapist, “o estuprador”... Uma piadinha para quebrar o gelo.
Muitas vezes é difícil estar ali com alguém que você não conhece. Mas a
vantagem de sê-lo, um desconhecido, é o sucesso destes encontros. Os terapeutas
são treinados para escutar também o que não é dito. Você não esta ali para se
aconselhar com o terapeuta, mas para se aconselhar com você mesma, reconhecer
sentimentos que por vezes foram desconsiderados na infância. Quando a criança
está brava e é minimizado o que ela sente... ”isso é uma bobagem, só por isso
você está bravo?” – Quantas vezes não fizemos isso com nossas crianças na
melhor das intenções desviando a atenção para algo mais sério, mas que nem cabe
entrar em questão. Compartilhar verdades difíceis trás um custo, a necessidade de
encará-las, mas também há uma recompensa: a liberdade. A verdade nos liberta da
vergonha.
Lembrando-se de outro livro que
li nesse interim, do Victor Frankl, sobre a logoterapia (terapia do
significado), enquanto Freud acreditava que as pessoas são impulsionadas pelo
prazer, a busca-lo evitando a dor, Frankl defendeu que o impulso fundamental do
ser humano é o de encontrar significado em suas vidas, em lugar da busca pelo
prazer. “Tudo pode ser tirado de um homem, menos uma coisa, a ultima das
liberdades humanas: escolher uma atitude em qualquer série de circunstâncias”,
afirmou Frankl.
Entre o estimulo e a resposta
está o nosso poder de escolha, e em nossa resposta está nosso crescimento e a
nossa liberdade.